segunda-feira, 18 de junho de 2012

Tradução: "Muito Velha Para o Pop"

Por indicação do Rodrigo, li um texto muito interessante sobre ageism, o preconceito voltado para pessoas mais velhas. Ele parte do exemplo de Madonna, que trouxe de novo o assunto à mídia desde que lançou o MDNA e mostrou seus mamilos por aí, rs, e começa a discutir em como seria mais natural que a experiência de vida agregasse força a um discurso, invés de dissolvê-lo, como se não tivesse real valor.

O autor do texto não deve ser muito fã da Gaga, a julgar pelo nome do blog (Paws Down Lil' Monsters), mas suas palavras são interessantes, especialmente ao falar da imaturidade com que certos temas são tratados por ela e outros artistas mais novos. Reitero porém que considero o discurso de Gaga válido, e que sua força talvez venha exatamente da identificação que parte da juventude sente com ela... De qualquer forma, é melhor deixar que as palavras do autor falem por si. Para ler o original é só clicar AQUI.


"MUITO VELHA PARA O POP"

“Muito velha para o pop”. Posso dizer isso para tudo na vida. Substitua “pop” por qualquer outra palavra no dicionário, e ninguém se importaria. Vivemos numa sociedade que ecoa a ideia de que as pessoas perdem sua liberdade para fazer o que quiserem à medida que envelhecem, especialmente mulheres. Mas nós queremos realmente perpetuar esta ideia?

Depois de uma certa idade, mulheres não podem usar biquinis - elas são muito velhas para isso (não importa o quão boa é sua aparência, TEM de cobrir seus corpos). Depois de uma certa idade, mulheres não podem mais querer sair e ter diversão - elas são muito velhas para isso. Mulheres são encorajadas a largar seus empregos e permanecerem em casa cuidando do lar, parceiros e crianças. Aquelas que não fazem isso são as loucas.

E ninguém é mais louca que Madonna. De acordo com o que nos diz a mídia, ela é muito velha para fazer o que faz: passou da idade para as roupas que usa no palco, para mostrar seu corpo (ainda que ela esteja numa forma melhor que muitas garotas de 20 anos), é velha demais para namorar homens mais novos... A lista não termina.

As limitações que tentamos impor aos outros baseados em sua idade e gênero vão além de termos concretos (corpo, roupas, cabelo). Tentamos limitar a habilidade das pessoas em PENSAR de uma determinada forma, também: Madonna é muito velha para a música pop (um gênero musical), muito velha para cantar músicas sobre se divertir (deveria ela cantar sobre aposentadoria?), ela é muito velha para se chamar de garota.

Desde quando música pop, se divertir, e chamar a si mesma de “garota” tem um limite etário? Penso que lógica seria importante neste assunto:

Quanto mais velho você fica, mais experiência você ganha, e quanto mais você sabe, mais respeitado você deveria ser por cantar, falar e escrever sobre as coisas que passou, em geral - desde o trivial até as coisas importantes na vida. Mas não, invés de reconhecer e aceitar esta noção, tentamos impor o oposto: quanto mais velho você fica, menor é seu direito de falar sobre a vida. Então, e o contrário, quando se é muito jovem para certos tópicos?

Se uma mulher de 50 anos não tem permissão de tratar a si própria como “garota”, ou cantar sobre querer “se divertir”, fazer algo trivial, livre de dramas e até pateta para sua idade, porque levamos a sério um adolescente ou até pessoas com pouco mais de 20 anos quando cantam sobre coisas sérias, coisas estas que só uma pessoa experiente deveria estar cantando?

Às vezes, as pessoas são MUITO JOVENS PARA CERTOS TÓPICOS. Condenamos mulheres com experiência por cantar sobre a vida em geral, mas louvamos adolescentes e aqueles com seus 20 e poucos anos (que não tiveram realmente experiência na vida) por cantar sobre assuntos “sérios”. E o pior, nós os levamos a sério.

Não soa ridículo quando um adolescente canta sobre amor de verdade? O que adolescentes sabem sobre amor de verdade? Eles deveriam estar cantando sobre ter lição de casa e ficar apaixonado por alguém - essas coisas pertencem a seu universo - não amor de verdade. Lady Gaga cantando sobre imigração? De novo, qual a experiência dela com isso? Oh, nenhuma! Mas tudo bem. Ela tem passe livre porque está em seus 20 anos - esses “jovens” podem cantar sobre tudo, desde o frívolo “se embebedar e sair dançando”, até coisas sérias - mesmo quando são muito jovens para realmente entender sobre o que estão falando.

De acordo com as mesmas “restrições de idade” que a mídia usa sobre mulheres mais velhas nas artes, Lady Gaga (entre outras estrelas “jovens”) deveriam estar dedicando suas canções a coisas que pertençam ao universo dela: sair pra boates, se embebdar, dançar. Gaga faz isso com frequência. Mas ela também tenta abraçar “causas sérias” que estão completamente fora de sua alcunha:

Temas Gay, igualdade, imigração - ela não tem experiência de vida suficiente para falar sobre isso no tom que fala. Gaga pode abraçar a causa e cantar sobre ela, mas o tom usado por ela acaba mais sendo ilusório. Ela disse, recentemente: “estamos num mundo diferente agora. 25 anos atrás, gays tinham de se esconder”. Exatamente! Ela tem 26 anos. Ela não tem ideia sobre como realmente era a vida dos gays há 25 anos atrás.

Ficamos felizes por ela querer ajudar a causa gay. Mas por que não deixar claro que seu discurso de primeira pessoa é uma atuação? Sua idade e sua fala em como “estamos num mundo diferente agora” são a evidência de quão pouca experiência ela realmente tem em assuntos que clama serem dela. Invés de dar um apoio transparente à causa, ela atua como alguém que sofreu da mesma forma que aqueles há 25 anos atrás. Mas a mídia nunca sugeriria que ela é nova demais para saber de tempos passados com tanta propriedade.... Mesmo quando seu próprio discurso faz seu ato ser contraditório.

Homens também sofrem com o preconceito por sua idade. Mas em nada se aproxima ao sofrido por mulheres. Mick Jagger ainda usa hot pants, e dança como quando era um sex symbol, em seus 20 anos. Ninguém diria que ele é muito velho pra isso. Bruce Springsteen ainda usa calças apertadas. Ninguém diz que ele está muito velho para isso. Prince ainda usa seus figurinos espalhafatosos. Mais uma vez, ninguém o considera velho demais para isso. John Bon Jovi continua cantando sem camisa no palco. Ninguém diz que ela está muito velho para isso. De fato, pessoas até preferem que ele se mantenha como era nos anos 80.

O problema não diz respeito somente à mídia espalhando essas visões e regras retrógradas. O problema real está em nós mesmos, as pessoas que ecoam tais ideias no dia-a-dia.

Agora, por qualquer razão, little monsters dizem que Madonna está “velha demais para fazer o que faz”. Mas Ei, Gaga terá 30 anos em 4 anos. Ela então será velha demais para usar figurinos de Halloween diariamente.

Este é o perigo de espalhar e compartilhar ignorância com o mundo - tudo isso volta para morder seu bumbum! Perpetuar essas ideias retrógradas no momento presente só afetará a percepção que teremos de seus favoritos num futuro próximo... Afinal, não passaremos por um completo despertar cultural em somente 4 anos.


domingo, 10 de junho de 2012

Um.



Nós somos um mundo só.
E somos muitos, em um mundo só.
Mas sermos muitos, e precisarmos de muita coisa, não muda um fato singular: somos um mundo só.
Sermos muitos, precisarmos de muita coisa, consumirmos à exaustão, nada disso faz o mundo crescer.
A ganância de ninguém conseguirá tornar nosso planeta maior do que já é.

E por isso florestas morrem.
Por isso a água potável morre.
Por isso a diversidade de vida morre, e com ela nós também.
Por essa ganância, pessoas morrem.
E sei que todos iremos morrer, mas é justo morrer pelo bel prazer alheio? É justo que firam nossa dignidade no mais básico e isso nos leve à morte? Não, não é.

E quanto à fome? A gente não quer só comida, mas sem comida não há como querer outra coisa. Quanto aos massacres e genocídios que num mundo pós-holocausto ainda acontecem, alguns até televisionados, como o 11 de setembro? Quanto à toda forma de propagar o ódio que vemos por aí, o que afinal nos levou a essa degradação? Onde foi que erramos a ponto de acreditar que nossas diferenças conseguem ser maiores que nossas semelhanças? Alguém pode responder?

Nós sangramos igual. A dor no corpo e na alma pode acometer qualquer um, e o mais óbvio, ela acometerá. Todos perderemos pessoas amadas, perderemos a juventude, a coragem e, em alguns casos, a liberdade de poder falar por si próprio. De certa maneira, somos tão bombardeados com mentiras, falácias e falsas opções de escolha que, na verdade, nenhum de nós é livre. Em suma, estamos todos no mesmo caminho, e sendo ele melhor ou pior, leva para o mesmo lugar... A mãe-terra vai nos acolher, não importa onde pudemos chegar.

Então o que falta para que possamos ser melhores? O que falta para que entendamos o mais simples? Mesmo que existir seja uma dádiva e uma maldição, que mania deprimente é esse de costumeiramente encararmos o pior lado das coisas e pessoas? Nosso coração não precisa de muito para sofrer, então POR QUE causar e/ou trazer mais sofrimento para si e os outros? Não é preciso pensar muito para entender que podemos mais, e melhor. E podemos mais. Podemos melhor.

Vamos cultivar a empatia! Vamos nos reconhecer no(a) semelhante, nossas virtudes e mazelas, a calmaria e a guerra, pois quando nos unimos por uma causa, potencializamos a força que temos. Um mais um não é somente dois. Um mais um gera o nós, uma terceira voz, capaz de nos unir ainda mais, celebrando a vida e aceitando a morte. Celebrando e aceitando, com toda a força do espírito. O espírito que nos habita e sempre vai nos unir numa forma só... Um mundo só.

Temos hoje as ferramentas para que possamos fazer dessa a melhor de todas as experiências humanas: nos comunicamos com pessoas de muito longe, algumas até que vem de universos culturais tão discrepantes dos nossos, e é esperado que tudo isso gere conflito. Mas todo conflito pode se dissipar, uma vez que, trocando ideias, e conhecendo melhor um ao outro, sejamos capazes de reconhecer que no fim das contas, a única coisa que precisamos para recomeçar é AMOR. Ter amor provoca todo o resto, então que primeiro surja o amor. As virtudes do amor.

Pois este é um mundo só.
E somos muitos, em um mundo só.
Não precisamos do tanto que supomos precisar, então aprendamos em quanto há tempo a perder o que não vai nos faltar. E a amar.

Amar.


"And love is not the easy thing...
The only baggage that you can bring
Love is not the easy thing
The only baggage you can bring
Is all that you can't leave behind"

- U2

A minor key

Desde que me explicaram melhor a letra de Video Games, da Lana De Rey (ouça AQUI), eu fiquei intrigado com a imagem de uma pessoa que se sente "satisfeita" com um affair desinteressado, que prefere jogar videogames a gastar seu tempo com alguém tão apaixonado... Ou obcecado. Acabou que ouvindo a nova música da Fiona Apple, Werewolf, senti que tinha encontrado o tom para falar de uma coisa assim. Isto é sobre uns certos sacrifícios que temos de fazer para acreditarmos no amor e nas coisas que ele nos diz... Ou talvez só um desejo filho da mãe e infeliz.


Um certo sacrifício

Ainda pergunto se estou entre seus desinteresses,
E isso só demonstra como estúpido sou!
Mas estúpido vou,
Satisfazendo meu desejo infeliz...

Mas que desejo infeliz!

Seria bastante doce para mim
Tê-lo a meu lado,
Ainda que você prefira seus jogos,
Enquanto a seu lado,
Fico fazendo bordados

Gostaria que, pelo menos,
Você neles tivesse reparado
Aceitaria até uma crítica, como
“Que tema mais feio”, ou
“Seu talento é bem raso”
Assim como seu interesse,
Um lago morto,
Tão morto que
Mergulhar nele é bater com a cabeça nas pedras,
Ganhar com minha esperança fajuta
Mais machucados

Mas bato!
Até sangrar, bato!
Até minha razão escapar
E de alguma forma,
Meus sentimentos menos nobres
Tenham como prevalecer e
Eu não me sentir tão mal de
De estar a seu lado...

Já que fui eu quem pediu,
Mesmo não sabendo como fui suplicar
Eu sei, fui eu quem pediu,
Mas é tão agridoce lhe aceitar...
Fui eu quem pediu,
Pediu para você ficar
E o mais estranho é que
Quando você decide sair,
O que mais quero é vê-lo sentado,
Jogando seus jogos,
Com sua coluna torta
E seu desinteresse em me olhar...

Isso é amar?
Isso é amar?




"And I could liken you to a lot of things, but I always come around..."

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Sobre quando dançar é instintivo.

Movimentar

Escreva uma música que me faça dançar
E escreva com calma,
Da forma que melhor se encaixar
Pois eu não tenho pressa em ouvi-la,
Não tenho nada para me ocupar
Eu posso esperar

Escreva uma música de amor,
Mas não precisa dizer me amar
Apenas cante e me encante,
Não me prenda,
Não exija,
Não queira me afogar

Diga me amar
Enquanto a música tocar

E que com ela eu possa dançar
Com você, entremeado pela melodia,
Eu possa dançar
Faça então dessa música
A mais singela,
A mais eterna,
A mais comovente e singular...

Nem que para isso,
Você precise silenciar
Deixar, em silêncio,
A música tocar



"Overcome me, baby"

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O que eu achei do MDNA!




NOTAS: As músicas citadas podem ser ouvidas abrindo os links associados a seus nomes.


Demorei a escrever sobre o MDNA, o último álbum da Madonna, por um único motivo: discos só se mostram realmente bons ou ruins quando, depois de algum tempo, eles não perderam o gás, não cansaram aos ouvidos. E digo que, mesmo não sendo o trabalho mais bem elaborado por Madonna, o MDNA tem elementos que cativam e, sendo descobertos e redescobertos, garantem uma audição prolongada e satisfatória... Resumindo, o CD é BOM, na minha humilde opinião.

Antes de ir aos pontos positivos, quero tratar dos negativos, especificamente de um: o MDNA é um álbum sonicamente fragmentado, e como minha amiga Amanda havia dito antes, é praticamente óbvio que assim seja, até na capa dele você vê um rosto todo repartido. E isso deve ter ocorrido por dois motivos: falta de tempo da própria Madonna para se dedicar ao projeto de forma integral (um dos produtores desabafou dia desses sobre isso - leia AQUI) e o envolvimento de 5 produtores, dos quais se destacam três: Benny Benassi (criador de um ótimo remix pra "Celebration"), Martin Solveig (do hit "Hello") e William Orbit, que tem como cartão de visitas o Ray of Light (precisa falar mais?). No entanto, o maior "erro" do MDNA não é sua fragmentação em si. Na verdade, foi o desejo de fugir dela que fez com que o álbum se tornasse uma viagem com altos e baixos, e falo porquê.

Madonna já havia deixado claro, antes mesmo dele receber um nome, que seu novo trabalho tinha elementos mais extrovertidos, vindos de Solveig, e outros mais introspectivos, próprios do que ela fizesse com Orbit. Quando se ouve o álbum muitos desses elementos vão se misturando, e talvez se fossem apresentados em blocos melhor definidos, escutar o MDNA seria uma experiência mais clara. Afinal, se fica difícil conciliar um pop grudento como Give Me All Your Luvin' com algo tão violento e sexy como Gang Bang, talvez o melhor seja que não estejam verdadeiramente conciliados; poderiam estar melhor agrupados. Depois de tanto ouvir o disco, eu criei uma tracklisting melhor, que postarei no fim da publicação ;)

Agora, vamos ao trigo, já separado o joio. Este disco representa o que o Like A Prayer foi para Madge no divórcio com Sean Penn. Mesmo já tendo se passado 4 anos da separação de Guy Ritchie, no Hard Candy o tópico não se fez tão presente, uma vez que eles ainda eram casados e em algumas músicas apenas o desgaste era evidente (Devil Wouldn't Recognize You; Voices). Ela precisava exorcisar demônios, vindos não só do fim do relacionamento, mas de sua idade, da concorrência com cantoras mais jovens, além da vida de mãe solteira... E se o assunto é exorcismo, Madonna decidiu por tomar o mesmo caminho do álbum de 1989: falar exaustivamente de religião, outro dos demônios do qual a Rainha do Pop nunca pôde se desvencilhar.

E a temática religiosa é a base para a primeira canção do álbum, GIRL GONE WILD. Cantando sobre uma "garota" que se vê envolvida por um homem sexy e encantador, ela diz sentir esse "burning hot desire", e que ninguém poderia "put out my fire"... Ok, onde entra a religião mesmo? Ela começa a canção orando o Act Of Contrition (que inclusive já havia dados às caras no Like A Prayer), e afirmando que queria de todas as formas ser uma "garota boa" - a garota boa então pira e acaba assumindo que na verdade não era boa coisa nenhuma, ela continuava sendo uma bad girl... E se você ouve I Don't Give A, sabe muito bem que ela "tried to be a good girl, tried to be your wife" - já viu, né?



O exorcismo continua com a pungente GANG BANG! Numa espécie de bad trip, a personagem desse pequeno conto sangrento percebe que a pessoa a quem ela mais amava na verdade era sua inimiga e decide sair atrás dela para matá-la, nem que isso a levasse ao inferno (religião de novo...)! Em meio a uma batida marcante e sons de tiros e gatilhos sendo acionados, Madonna canta que tem medo, mas quer ir até o encontro de seu opressor, para lhe dizer umas poucas verdades! É aí que a Bad Girl se revela realmente... Imbuída de loucura, ela grita:

"You had to die for me baby
You had to die for me baby
You had to die for me baby

How could I move on with my life
If you didn't die for me baby
If you didn't die for me baby
I need you to die for me baby

Bang Bang, shot you dead,
Shot my lover in the head
Now my lover is dead, and I have no regrets
He deserved it!"

É evidente como Gang Bang retrata um crime passional; Madonna decide matar aquele que um dia ela julgou não poder viver sem ela - e talvez tenha feito esse julgamento por ela mesma se sentir dessa maneira. O amor vira ódio quando somos feridos naquilo que mais acreditamos, e é isso que a música transmite... Se ele agiu como um canalha, que morra como um canalha!

Chegamos à I'M ADDICTED, e a narrativa que estava começando a se construir perde um pouco de seu fio. É uma ótima faixa dançante, que inclusive batiza o álbum ao fazer uma brincadeira com os acrônimos MDNA - MDMA, referindo-se então ao disco como uma droga tão extasiante quanto (MDMA é o princípio ativo do ecstasy). Logo é seguida por um momento "iluminado" do álbum: TURN UP THE RADIO. Essa canção, um descarte de Martin Solveig no qual Madge decidiu se debruçar, é cheia de fôlego e tem potencial para ser um hino em nome da liberdade. Ela, porém, também mostra um pouco das frustrações subjacentes à essa vontade de se libertar, uma vez que Madonna canta:

"I'm Stuck like a moth to a flame
I'm so tired of playing this game
I don't know how I got to that state,
Let me out of my cage cause I'm dying!"

Esqueça seus problemas aumentando o volume do rádio até os autofalantes explodirem! Essa é a mensagem.

Além do demônio-divórcio, outra das preocupações de Madonna era de se autoafirmar como a maioral no mundo do Pop. E para isso, ela se usa de 3 músicas: GIVE ME ALL YOUR LUVIN', SOME GIRLS e I DON'T GIVE A. A primeira, que serviu de single ao álbum, é adolescente ao extremo, pela temática cheerleader, seu ritmo esquentado e a letra carente, pedindo ao ouvinte que a dê todo seu amor, e é pra hoje! hahahahah Madonna se usa de uma ironia tão refinada (ou seria escrachada?) que quase passa despercebida, ficando evidente somente quando o clipe da música saiu e, em seu início, se ler que "fãs podem te fazer famoso, um contrato te fazer rico, a imprensa lhe tornar um superstar, mas só o amor lhe torna um jogador". Não vou me aprofundar muito na letra, pois o Madonna Now já fez isso, e você poderá ler AQUI. Some Girls, por sua vez, tem uma letra em que Madge aponta diferentes tipos de garotas, afirmando que "some girls are not like me", reiterando enfim que "I'll never wanna be like some girls"... Dessa, eu diria que o melhor é a ponte com as guitarras bem próprias do William Orbit (ouça bem alto no fone de ouvido, é a dica!).



I Don't Give A, a terceira e última das canções, merece um destaque, por ser um pouco mais complexa que as anteriores. Numa espécie de Rap a la American Life, M canta sobre as agruras de ser mãe solteira, ter passado por um divórcio conturbado, e ainda ter uma carreira extremamente corrida. Mas em que momento exatamente ela se autoafirma? Ao apontar que ela mal sente a pressão de tudo isso, e que se você tem algum problema em ela fazer 10 coisas ao mesmo tempo, ela não dá a mínima. O melhor momento dessa música surge mesmo quando, num instante de fragilidade, Madonna confessa os seguintes versos:

"I tried to be a good girl
I tried to be your wife
Diminished myself,
And I swallowed my light

I tried to become all that you expected of me,
And if I was a failure, I don't give A..."

Pra completar, Nicki Minaj, que participa com M.I.A. em GMAYL, canta um rap e termina com a cereja do bolo: "There's Only One Queen, and That's Madonna, Bitch!" - isso, emendado com um coro sombrio que surpreendentemente combinou com a música, faz de I Don't Give A mais um momento de redenção. E redenção leva a... Religião. Portanto, é hora de cantar numa atmosfera lisérgica que "I'm a Sinner, I like it That Way!"

I'M A SINNER é uma canção que muita gente não gostou por remeter um pouco demais à influência indiana sobre o Ray of Light, bem como ao hit Beautiful Stranger. A música porém é mais focada em se afirmar como um ser humano, e se isso significa ser pecador, que seja, ela gosta de viver assim! Amparada mais uma vez pelas guitarras orbitnianas, Madonna até dedica uma ponte a ícones religiosos do Catolicismo, algo contrastante com os primeiros versos, bem viajados por sinal. De um jeito ou de outro, é uma música divertida e acaba servindo como um relax para a sequência de rituais exorcistas anteriores. É a partir dela que o disco chega a um momento mais calmo, e centrado. E começamos pela que talvez seja a melhor música do MDNA, uma triste ausência na nova tour: LOVE SPENT.

"You had all of me
You wanted more
Would you have married me
If I were poor?
I guess if I was your treasury
You'd have found the time to treasure me

How come you can't see
All that you need
Was right here with me
Up until the end
All this pretend wasn't for free

Hold me like your money
Tell me that you want me
Spend your love on me
Spend your love on me
Now you have your money
Spend it til there's nothing
Spend your love on me
Spend your love on me..."

Madonna pela primeira vez fala do divórcio com um tom mais sereno, e dessa vez, como se pôde ler nos versos acima, a crítica é ao aparente materialismo de Guy Ritchie. A questão é que um sentimento se faz presente pela primeira vez no CD, algo tão genuinamente humano quanto o orgulho: a humildade de admitir que sim, ele faz falta. Ainda que ela cante que se sente "esgotada no amor" (love spent, rs), o último verso dessa canção maravilhosamente pontuada por um banjo é o singelo e entregue: "hold me in your arms until there's nothing left". Dá uma dorzinha pensar nisso...

Passada Love Spent, vamos para o calmo desfecho do MDNA: primeiro MASTERPIECE, depois FALLING FREE.

Masterpiece só entrou no álbum por ser uma canção ganhadora de um Globo de Ouro. E muita gente torceu o nariz para ela, inclusive Elton John (risos eternos), talvez por sua crueza em termos instrumentais e a letra, que começa meio boba ao falar da Mona Lisa. Quando digo "começa", é porque em pouco tempo as metáforas se mostram mais inteligentes. Os melhores exemplos está no próprio refrão:

"And I'm right by your side
Like a thief in the night
I stand in front of a masterpiece
And I can't tell you why
It hurts so much
To be in love with the masterpiece
'Cause after all
Nothing's indestructible"

Dizer que você se sente como um ladrão diante de uma obra prima ao olhar para alguém é no mínimo interessante. E emendar com a dor que essa obra prima causa é genial! Dói porque você quer se equiparar e sentir que é digno do que vê à sua frente. Dói porque sentir algo tão bom é pecado (religiosa essa Madonna!). Mas não deveria doer pois nada, nem mesmo uma obra prima, é perfeito. 'Cause, after all, Nothing's indestructible...



O álbum então conclui-se com Falling Free, uma belíssima balada orquestral com algumas poucas intervenções eletrônicas. A canção remete um pouco mais ao Ray of Light, e mesmo tendo uma letra que parece em alguns momentos se perder em seu curso, consegue passar sua mensagem. E aqui está a verdadeira redenção: em Falling Free, M canta sobre compreender que nem tudo na vida é compreensível, e que às vezes as coisas são como são, o que as exime da obrigação de terem explicação. É por isso que ela canta:

The face of God who stands above
Pouring over hope and love
That all of might, and life, and limb
Could turn around a love again
When I let loose the need to know
Then we're both free, free to go...

I'm falling free

(...)

Deep and pure our hearts align
And then I'm free, I'm free of mine
I let loose the need to know
Then we're both free, free to go

Através dessas palavras, Madonna demonstra que se os demônios não foram exorcisados, ao menos agora ela poderia lidar melhor com o que eles causaram. E o MDNA, que começa urgente, sufocante e sufocado, termina calmo.

Deep and pure... Calmo.


Concluindo: o MDNA é um álbum que pode soar muitos em um só, mas me parece que seus temas convergem para um grande estatuto: de que não importa quanto estresse surja ao redor de Madonna, ela será capaz de se reerguer e mostrar que ela continua forte e em seu lugar, como Rainha do Pop. Talvez ela nem precise de tanta autoafirmação, mas essa "fragilidade" só mostra como Madonna pode ser A Rainha, mas isso não a torna menos humana. Essa é a dádiva do MDNA.

Hernando

ps1: SUPERSTAR é uma música fofíssima, uma joia, mas acabei não a envolvendo no texto por ser talvez a mais distante tematicamente do MDNA.

ps2: As faixas bônus são mais leves, ainda que I FUCKED UP e BEST FRIEND (ÓTIMA produção dos Benassi) também abordem o divórcio. Ambas porém seguem a linha das últimas canções, denotando uma certa resignação. Valem a pena.

ps3: a faixa Beautiful Killer, última bonus track que cito aqui, ganhou uma versão ao vivo linda, no show feito para o Olympia!



ps4: logo abaixo eu apresento uma tracklisting do MDNA que, na minha opinião, melhora a audição do disco; se vocês ouvirem, por favor me digam depois o que acharam ;)

GIRL GONE WILD
SOME GIRLS
GANG BANG
I'M ADDICTED
TURN UP THE RADIO
SUPERSTAR
GIVE ME ALL YOUR LUVIN'
I DON'T GIVE A
I'M A SINNER
LOVE SPENT
BEST FRIEND
MASTERPIECE
FALLING FREE