sábado, 15 de fevereiro de 2014

"Hologramas"

Lorde costuma explorar a superficialidade com que nos acostumamos a viver. E ela me levou a falar (bem pouco) sobre os vazios onde estamos, eu e você.

Hologramas

Cada um luta com o que tem
E se não tiver nada,
Use seu corpo, meu bem
Acione a bomba,
Exploda o prédio,
Mate aquele que já é morto,
Também
Aquele corpo andarilho
Que se perdeu do sentido
Mas continua entretido,
Como mais um Zé Ninguém

Um ninguém

Um exército de ninguém




"I remember when your head caught flame... 'It's buzzcut season, anyway'"

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

[Ranking] Os discos de Shakira, do pior ao melhor!

Shakira já se provou como uma estrela mundial e multifacetada, passeando na sua discografia pelo pop, rock, reggaeton, outros ritmos latinos e até jazz, logo no comecinho da carreira. Seu interesse de agregar a seus álbuns elementos diversos é o que dá mérito e personalidade a seu trabalho, o qual, quando inspirado, supera de longe o de suas páreas no mundo pop. Ainda que o mais chamativo ao grande público nela seja seus quadris, que não mentem nunca, Shaki tem bem mais a oferecer para quem presta atenção… E pensando nisso, decidi fazer uma lista explicando o que há de bom (e ruim) em seus discos, indo do pior ao melhor álbum. Não incluí “Magia” e “Peligro” nessa postagem, uma vez que o sucesso bateu à porta da colombiana com seu memorável “Pies Descalzos”, e este é considerado no próprio site da cantora seu primeiro lançamento. Mas não é com ele que o ranking começa…


07º - She Wolf


Ok, essa é uma escolha meio óbvia para pior disco de Shakira. She Wolf é difícil de entender: com sede de invadir de vez o mercado norte-americano, a cantora lançou um álbum meio bitchpop, meio farofeiro, meio classy (mais pra sassy) e meio rocker também… Ou seja, qualquer coisa. O problema não está nem em ser alguma ou todas essas coisas, mas de tentar abarcar tudo e acabar não sendo nada. As músicas não se conectam muito bem, e para piorar, quando o disco não ia bem nos charts ela se dispôs a lançar uma parceria com Timbaland e Lil’ Wayne, a esquecível "Give It Up To Me”. Para não dizer que o disco é um completo charco, existem canções interessantes do meio para o fim: “Men In This Town”, enérgica e dream single de todo fã, “Spy”, bem mais sensual que a faixa-título, e “Gitana”, remetendo com sua gaita à velha e boa Shakira dos primeiros álbuns. No geral, entretanto, o uivo da loba passa quase despercebido em sua discografia.


06º - Oral Fixation Vol. II


Lançado como contraponto ao “Fijación Oral Vol. I”, Oral Fixation Vol. II procura se opor ao romantismo e entrega do primeiro com faixas raivosas e dotadas até de teor político. Já em sua primeira canção vemos a cantora questionando Deus sobre as incongruências do mundo (How Do You Do), para depois reforçar seu desprezo pelo comportamento interesseiro e carniceiro da sociedade (Animal City). No meio do caminho, revemos a decepção amorosa - grande amiga da compositora Shakira - na rancorosa “Don’t Bother” e na melancólica “Dreams for Plans”, e ainda sobra espaço para escancarar suas fragilidades em “Costume Makes The Clown” - “Told you I felt lucky with my humble breasts… Well, I don’t”. O disco finaliza com uma canção super autotunada, mas de letra interessante: “Timor” trata das desigualdades planetárias (“the planet’s split in three”), apontando o dedo para a alienação e desinteresse que muitos demonstram pelo seu próximo. Alguns dos meus versos prediletos do disco estão nessa faixa, a saber: “If we forget about them, don't worry / If they forget about us, then hurry! / How about the people who don't matter anymore?”. Mesmo que suas melodias não sejam tão pungentes, Oral Fixation é redondinho e apresenta lados de Shaki que muitos esquecem por aí. Para ele, o 6º lugar.

ps: mesmo que esse disco seja o de Hips Don’t Lie, maior sucesso da artista, esta música foi incluída meses depois do lançamento original. Ela é ótima, mas destoa do resto do álbum; por isso, ficou de fora do texto.


05º - Laundry Service


“Le do, lo de, lo de” - Ainda que sejam seus versos mais conhecidos (hahahaha), Laundry Service tem mais a oferecer que “Whenever, Wherever”. O disco é irregular, devo admitir, mas possui canções realmente especiais, e com isso passa à frente do Oral Fixation nessa lista. A primeira delas é “Ready for the Good Times”, na qual Shaki prova que sua capacidade com trava-línguas se manteve firme e forte em inglês, e ainda, cativa quase que instantaneamente com seu som pegajoso e contagiante . No mesmo pique chega “Te Dejo Madrid”, mistura de rock e latinidade que sempre há de aparecer em qualquer álbum da cantora, e por fim “Que Me Quedes Tú”, uma das melhores baladas de toda sua carreira. Cantando que poderiam destruir os prazeres do mundo, contaminar toda água do planeta, fazer os filantropos e sábios renunciarem e por fim escrever de todas a última canção, Shakira reitera que nada disso importaria se ele, sim, ele ficasse com ela. “Que se me quedas tu, me queda la vida”. Com outras boas canções, como “Underneath Your Clothes” e “Poem to a Horse”, “Servicio de Lavanderia” apresentou a artista ao mundo com vontade, e mesmo sendo um pouco imaturo, o tempo mostrou que ele não dava conta do que viria por aí.


04º - Sale El Sol


Depois da conturbada era “She Wolf”, Shakira decidiu voltar a seus primórdios, e para isso produziu um disco que sumariza muito do que ela já havia criado, até ali. Sale El Sol é diverso, iluminado, e principia com a faixa-título, uma balada cheia de esperança anunciando que quando menos se espera, sai o sol. A partir dela, o disco passeia por três frentes musicais: faixas dançantes e de influência fortemente latina, como a esperta “Loca” e o reggaeton “Gordita” (em parceria com Calle 13); baladas românticas, retratando pela primeira vez a resignação pelo amor perdido (Lo Que Más) e a vontade de ser mãe (Mariposas); e finalmente, as faixas rock, a exemplo de “Tu Boca” e “Devoción”. Essa última, inclusive, causou furor entre os fãs por soar perfeitamente cabível em “Donde Están Los Ladrones”, segundo e aclamado disco da cantora. Há de se questionar: com todas essas nuanças, por que este álbum não caiu na mesma vala do She Wolf? Pelo simples fato de que ele soa autêntico em praticamente todas as músicas, e a paixão perdida no disco anterior havia voltado, com força total. À época de seu lançamento, Shakira admitiu que Sale El Sol representa um momento de renascimento íntimo para ela. Sem dúvida, essa energia renovada é o que o disco transmite.

ps: não sei bem de onde saiu a ideia de fazer um cover do The XX, mas a versão para “Islands” presente neste álbum é suave e “ensolarada”. Vale a pena escutar!


03º - Pies Descalzos


Ouvir o Pies Descalzos para quem é fã desde os anos 90 é como voltar para sua infância/adolescência, e se pegar intrigado com a forma como aquela moça da voz estranha cantava rápido. E disso para comprar o disco e passar horas repetindo o refrão até decorar cada palavra foi rápido, rápido. Mesmo com todo esse valor emocional, este disco se destaca por sua “boa imaturidade”, na forma de um frescor que empolga nas melodias, e encanta nas letras. Para além do hino “Estoy Aqui”, Pies Descalzos já demonstrava o quanto Shakira é uma pessoa apaixonada, seja por um homem, seja por sua arte. Tudo é sentido aos extremos, como uma adolescente querendo segurar o mundo só com suas mãos. E assim ela fala sobre o amor, com doçura (Antologia, Quiero), fanfarra (Te Espero Sentada) e desesperança (Pienso En Ti). Ainda trata de polêmicas nas canções “Se Quiere, Se Mata” - uma crítica ao aborto - e “Pies Descalzos, Sueños Blancos”, que mesmo discorrendo quase que aleatoriamente sobre Adão e Eva, dinossauros, e espaço-tempo, termina com um discurso relevante sobre os modelos que seguimos para ter uma vida “saudável e exemplar”. Por fim, a mistura de ritmos diversos em sua música já dá sinais neste álbum, com forte influência do reggae na divertida “Un Poco de Amor”.
O primeiro disco de Shakira tem sabor de saudosismo… E essa é só uma das razões para ele ter ficado em 3º lugar.


02º - Fijación Oral Vol. I


Fijación Oral Vol. I já chama atenção por sua capa. Shakira representa a Madona numa versão andina, e encara o ouvinte com olhos escuros, serenos, e extremamente envolventes. E “envolvente” é a palavra que define sua primeira faixa: “En Tus Pupilas” narra a paixão na forma mais suave, e se ampara na influência da música francesa para criar uma atmosfera marítima, ondulada, enternecendo na primeira audição. É seguida pela impiedosa “La Pared”, uma declaração de amor rasgada e que remete sonoramente a The Eurhythmics, para enfim desabrochar na sensualíssima “La Tortura”, música de sabor latino que se conclui num violão ritmado, quase uma percurssão.
O disco continua com “Obtener Un Sí”, faixa de bossa nova detalhista e delicada, abrindo espaço para duas composições de Gustavo Cerati, a dulcíssima “Dia Especial”, e “No”, uma balada coescrita por Shakira que mostra como as desilusões são fortes propulsoras de sua veia criativa. Vindo do refrão, “No se puede morir con tanto veneno / No se puede dedicar el alma a acumular intentos / Pesa más la rabia que el cemento”, a canção evolui para um final dramático, capturado com maestria por sua apresentação ao vivo. As pérolas do disco concluem-se com o pop certeiro de “Las de La Intuición” e a simplicidade cativante de “Dia de Enero”, uma das mais bonitas declarações de amor da cantora a seu então namorado.
De tão apaixonado, Fijación Oral Vol. I torna-se apaixonante. De quebra, é versátil, coerente, sem excessos nem ausências, e por isso vale cada nova audição.


01º Donde Están Los Ladrones


Assim como o último lugar dessa lista, a escolha do primeiro também foi óbvia! Donde Están Los Ladrones é o melhor disco de Shakira porque mesmo passados 15 anos, continua distintivo e extremamente rico em seu universo. Explora temas próprios da tapeçaria artística da cantora, mas com versos extremamente inspirados e, em alguns casos, sob uma ótica peculiar. O maior exemplo disso é a canção “Octavo Dia”, na qual a cantora narra a história de um Deus que após os 7 dias da gênese, foi passear pelo espaço, e quando voltou à Terra deparou-se com todo o caos, virando mais um desempregado “de la tasa que anualmente está creciendo sin parar”.
Musicalmente, as influências são íntimas ao coração de Shakira: “Ciega Sordomuda” usa-se dos mariachis para reforçar o dramalhão mexicano da canção, enquanto o grande sucesso “Ojos Así” pega carona na influência árabe que a cantora tem por descendência familiar. As outras canções passeiam pelo pop/rock latino, a exemplo de “Si Te Vas” e a faixa-título, havendo espaço ainda para toda a verve passional que permeia sua obra, em canções como “Inevitable” e “Tu”. Por fim, destaco a que, para mim, é a melhor canção de Shakira: “Sombra de Ti”. Com guitarras que se desmancham e um vocal honesto, a emoção é sentida em cada palavra entoada… E assim, esses versos são entregues: “Debes saber que hay pedazos de tu boca sin querer / Regados por aquí / Y que tropiezo cada día sin pensar, con un viejo recuerdo más / Y alguna nueva historia gris.”
Forjado em pura intensidade, Donde Están Los Ladrones é um bom começo para quem está conhecendo Shakira, e uma visita recorrente para qualquer fã. Indispensável!


Espero que tenham apreciado! E se quiserem deixar alguma opinião, será bem vinda!